domingo, 18 de outubro de 2009

I can’t get no satisfaction


Crise dos vinte e poucos (ou muitos) anos. Crise da meia idade. Crise no casamento, crise por não casar. Crise com os filhos, crise por não ter filhos. Crise com a carreira profissional, crise porque não decola na carreira... Crises. Parecem cada vez mais comuns. Por que essa insatisfação generalizada? O cinema mostra. As artes plásticas são válvulas de escape para os mais talentosos. Tem música para ser a trilha sonora das nossas vidas incompletas. Nada que não possa ser traduzido em uma tarde sem graça de um domingo sem graça.

Mas o que tanto falta? Ou melhor, o que tanto se quer? Um amor que transcenda a vida, um sexo que te leve às nuvens, o carro do ano, a casa da revista, o corpo da modelo? A família perfeita? O emprego perfeito?

E o que é tudo isso? Será que foi a sociedade de consumo que nos transformou em seres eternamente insatisfeitos e solitários? Solitários por nossa própria insatisfatória escolha? Na qual ninguém nem nada é totalmente interessante, ou interessante o suficiente?

Quem disse que minha avó, por exemplo, não foi 100% feliz por ter apenas um único homem na vida dela, abdicado a tudo para criar a sua família e se dedicado a sua religião? Não lembro de ouvi-la reclamar que faltava emoção na sua vida, que queria aventura, que estava sempre insatisfeita com seu corpo (mesmo que pintasse mensalmente o cabelo para esconder os fios brancos).

Ainda acho que ela era feliz. Nunca fez terapia e certamente era muito melhor resolvida que a neta dela, que cansava semanalmente sua psicóloga, que viajou para esquecer a vida, que compra livros de sociologia moderna para entender sua geração e a si mesma, que escreve incansavelmente sobre os mesmos assuntos, que sofre pelas mesmas coisas e sempre da mesma maneira.

E torna a pergunta: o que falta? Saber o que não quer é fácil. O que não se quer é fácil responder. Mas um pouco simplista demais. Um pouco covarde demais. Um pouco pró-ativo de menos.

No fim das contas ela sabe bem o que ela quer.

E para isso, ela atravessa os mares, ela aprende uma nova língua, ela desiste da sua profissão. Ela larga sua família, ela esquece dos amigos. Ela faria uma loucura. Porque acredita que um dia tudo isso poderá completá-la.

Mas ela não faz loucuras. Ela só sonha.