quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Eu preferia não ter que escrever nada disso...

Do que eu mais me lembro eram os baldes de pipoca que comíamos todos os domingos na casa dela. De assistir Faustão e depois voltar para a casa, se preparando para finalizar o final de semana e voltar na segunda, cedo, para a escola. A cada visita era um novo presente. Brinquedos eletrônicos chineses, muito chocolate na páscoa, 3 presentes diferentes a cada aniversário.

Faz alguns bons anos que eu não compro guarda-chuvas. E eu já tenho um enxoval. Era sempre ela me protegendo da chuva, me preparando para casar. Espero não tê-la decepcionado.

As suas bonecas sempre estão com os cachos em ordem. Acho que foi tão forte o gosto dela por cachos que suas duas netas ficaram como suas bonecas: de cabelos com cachos largos e definidos.

A última vez que a vi, o sorriso dela era bastante largo para uma pessoa que acabara de passar uma semana no hospital, pela segunda vez em poucos meses.

As fotos que ela fazia cópias e cópias e que eu não achava muita utilidade, a partir de agora farão parte do acervo de uma realidade minha que não volta mais.

A cada hora que o telefone de casa toca, meu coração dispara, mesmo que eu saiba qual será a notícia. Ninguém quer ouvi-la. O telefone está tocando três ou quatro vezes cada vez que alguém precisa falar com a gente. Ninguém quer atendê-lo. Ouvir a notícia oficial.

Oficial: palavra tão banal para uma situação dessas. Notícia oficial depois de ter a minha mãe desabando no meu colo, enquanto eu mesma tentava registrar a informação. Enquanto tentava decifrar a mensagem que recebi ontem, só Deus sabe como, sem a menor coragem de dividir isso com alguém. Sem saber se devo contar, quando, para quem.

E hoje eu fiz uma panela de pipoca. Não foi aquele balde, mas vai ver que era a mesma quantidade, eu que era menor.

Quem vai fazer meu bolo de aniversário do ano que vem? Quem vai me contar as peripécias do cachorro, com a alegria de uma criança? Quem vai me falar das viagens e das festas e das amigas da turma da terceira idade e me mostrar que envelhecer com amigos fica muito mais fácil e divertido?

Quem eu vou poder chamar agora de avó, assim, no tempo presente?