quinta-feira, 23 de julho de 2009

Nojo...

Meu primeiro emprego era no centro da cidade. Todo dia, ida e volta, eu atravessava todo o viaduto do chá e a Xavier de Toledo. Todo dia eu via trombadinhas roubando celulares e todo dia a polícia metropolitana destruía os produtos que os camelôs tentam vender para ganhar a vida.
Já vi um cara que pulou da janela do 2º andar de um prédio para fugir polícia caminhando ensangüentando e calmamente pela Consolação. Mas capinhas de celular, fones de ouvido, canetas e calculadoras diariamente viravam sucata na mão de ‘autoridades’ que precisam fazer uma ‘fiscalização’ pesada. Não concordo nem em gênero, nem número, nem grau. Não sou a favor da pirataria, do contrabando. Mas são pessoas que arrumaram uma oportunidade que não é – ainda – virar assaltante, seqüestrador.
Hoje presenciei mais um confronto entre camelô e polícia. Há mais de 200 metros do estádio do Pacaembu, em um horário em que o jogo Palmeiras e Corinthians estava prestes a começar, vejo três vendedores de ÁGUA correndo e tentando, em vão, fugir da Kombi velha com policiais que acreditam que fazem um super serviço de confiscar meia dúzia de garrafas de água e latas de refrigerante e cerveja (acho que bebida alcoólica não deveria ser vendida nem perto de estádios em dias de jogo, mas isso é assunto para outro dia).
A minha vontade hoje foi gritar para os policiais hoje “bem feito”. Me controlei. Me atacou a gastrite. O camelô, que não conseguiu fugir a tempo quando viu a kombi parando ao seu lado, arremessou aquele enorme isopor para frente, derrubando todas as latas e garrafas em cima dos policiais, fazendo uma grande bagunça na calçada, e atrapalhando o trânsito. É só o que a dignidade dele pode fazer, momentos antes de responder quase como um criminoso e perdendo a mercadoria que lhe tirará pelo menos 10% do faturamento do mês.
E eu nunca vi um trombadinha ser preso, um celular ser resgatado e duvido muito que o rapaz ensanguentado que pulou a janela tenha sido pego.

Um comentário:

  1. Mas o que falta é um pouco de solidariedade e organização entre os próprios camelôs. No exato momento de um rapa, os camelos tinham de se tornar um corpo único e partirem para cima dos gambés. Enquanto correrem da polícia para salvarem suas mercadorias serão esmagados como baratas.

    ResponderExcluir