domingo, 4 de abril de 2010

Exercício pós - monólogo interior

Na sala de cinema daquela tarde quente de sábado, pouco mais de 20 pessoas assistiam à obra de José Saramago que Fernando Meirelles transformou em filme. Já passava dos 30 minutos iniciais e as cenas de pessoas e lugares deteriorados se intensificavam e causavam mal estar.
Entre banheiros fictícios imundos e disputas de personagens sem nome, o vibrar do telefone me puxou de volta à realidade. Relutante em atender, deixei que ele tocasse mais algumas vezes. Ele insistiu por mais um tempo. Deu então um suspiro final e parou. Uma mensagem no correio de voz.
Enquanto a mulher do médico transitava entre os cegos, no escuro meus dedos buscavam o botão que me traria a notícia. Pressionei-o e logo ocorreu o encontro com a voz aflita de minha mãe.
Não cheguei a escutar o recado até o final. Sua primeira frase me fez levantar subitamente da poltrona: "entraram em casa."
O telão sumiu. As fileiras de poltronas eram apenas obstáculos e apoios para os braços que equilibravam pernas cambaleantes.
Duas palavras e uma imagem somente corriam à minha frente: minha irmã.

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