Do que eu mais me lembro eram os baldes de pipoca que comíamos todos os domingos na casa dela. De assistir Faustão e depois voltar para a casa, se preparando para finalizar o final de semana e voltar na segunda, cedo, para a escola. A cada visita era um novo presente. Brinquedos eletrônicos chineses, muito chocolate na páscoa, 3 presentes diferentes a cada aniversário.
Faz alguns bons anos que eu não compro guarda-chuvas. E eu já tenho um enxoval. Era sempre ela me protegendo da chuva, me preparando para casar. Espero não tê-la decepcionado.
As suas bonecas sempre estão com os cachos em ordem. Acho que foi tão forte o gosto dela por cachos que suas duas netas ficaram como suas bonecas: de cabelos com cachos largos e definidos.
A última vez que a vi, o sorriso dela era bastante largo para uma pessoa que acabara de passar uma semana no hospital, pela segunda vez em poucos meses.
As fotos que ela fazia cópias e cópias e que eu não achava muita utilidade, a partir de agora farão parte do acervo de uma realidade minha que não volta mais.
A cada hora que o telefone de casa toca, meu coração dispara, mesmo que eu saiba qual será a notícia. Ninguém quer ouvi-la. O telefone está tocando três ou quatro vezes cada vez que alguém precisa falar com a gente. Ninguém quer atendê-lo. Ouvir a notícia oficial.
Oficial: palavra tão banal para uma situação dessas. Notícia oficial depois de ter a minha mãe desabando no meu colo, enquanto eu mesma tentava registrar a informação. Enquanto tentava decifrar a mensagem que recebi ontem, só Deus sabe como, sem a menor coragem de dividir isso com alguém. Sem saber se devo contar, quando, para quem.
E hoje eu fiz uma panela de pipoca. Não foi aquele balde, mas vai ver que era a mesma quantidade, eu que era menor.
Quem vai fazer meu bolo de aniversário do ano que vem? Quem vai me contar as peripécias do cachorro, com a alegria de uma criança? Quem vai me falar das viagens e das festas e das amigas da turma da terceira idade e me mostrar que envelhecer com amigos fica muito mais fácil e divertido?
Quem eu vou poder chamar agora de avó, assim, no tempo presente?
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